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Orlistat: como age, para quem é indicado e quais os riscos

O Orlistate é um dos medicamentos mais antigos e estudados no tratamento da obesidade.

Embora muitos novos fármacos tenham surgido — como os análogos de GLP-1 — o Orlistate ainda ocupa um papel importante, especialmente em pacientes que precisam de tratamento seguro, de baixo custo e com poucos efeitos sistêmicos.

Neste artigo, você vai entender como o Orlistate age no organismo, quem pode usar, quais são seus efeitos colaterais, quais resultados esperar e por que o acompanhamento médico é indispensável.


O que é o Orlistate

O Orlistate é uma droga antiobesidade aprovada no final da década de 1990.

Sua principal característica é que atua no intestino, e não no cérebro — ao contrário de muitos medicamentos que reduzem o apetite.

Trata-se de um inibidor específico da lipase gastrointestinal, enzima responsável por quebrar as gorduras dos alimentos para que sejam absorvidas.

Ao bloquear parcialmente essa enzima, o Orlistat impede que cerca de 30% da gordura ingerida seja absorvida, e essa gordura é eliminada nas fezes.



Como o Orlistat funciona no corpo

O mecanismo de ação do Orlistate é puramente local.

Ele atua no trato gastrointestinal, ligando-se às lipases gástricas e pancreáticas.

Quando essa ligação ocorre, as gorduras da dieta (triglicerídeos) não são convertidas em ácidos graxos livres, forma necessária para sua absorção.

Como consequência, essas gorduras passam intactas pelo intestino e são eliminadas nas fezes.

Isso significa que o Orlistate não atua no sistema nervoso central, não altera neurotransmissores e não causa dependência — um ponto positivo em relação a muitos anorexígenos.

Efeitos esperados:

  • Redução da absorção de gordura alimentar;

  • Déficit calórico indireto (menor absorção de energia total);

  • Perda de peso progressiva e moderada;

  • Melhora de parâmetros metabólicos como colesterol e glicemia.



Indicação médica do Orlistate

De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Sociedade Brasileira de Nutrologia (ABRAN), o Orlistate é indicado para:

  • Pacientes com IMC ≥ 30 kg/m² (obesidade);

  • Pacientes com IMC ≥ 27 kg/m² e comorbidades associadas (diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, apneia do sono, etc.);

  • Pacientes que não respondem adequadamente apenas à dieta e exercício;

  • Situações em que o uso de medicamentos de ação central é contraindicado.

A dose habitual é de 120 mg três vezes ao dia, junto às principais refeições que contenham gordura.

Se a refeição não tiver gordura, não há necessidade de tomar o medicamento.



O que esperar: resultados clínicos e perda de peso média

O Orlistate não é uma “pílula mágica”.

Seu efeito depende diretamente da adesão à dieta.

Quanto maior o consumo de gordura, maior o efeito, mas também maiores os efeitos colaterais.

Em estudos clínicos de longo prazo, observou-se:

  • Perda média de 5 kg do  peso corporal em 6 meses;

  • Melhora significativa da glicemia de jejum e da resistência à insulina;

  • Redução de colesterol LDL e triglicerídeos;

  • Pequeno aumento do HDL (colesterol “bom”);

  • Diminuição da circunferência abdominal e da gordura visceral.

Esses benefícios são relevantes, especialmente em um contexto de cardiologia preventiva, já que a obesidade é fator de risco para infarto, AVC e insuficiência cardíaca.



Benefícios metabólicos e cardiovasculares

Além da perda de peso, o Orlistate pode oferecer melhorias adicionais no metabolismo:

  1. Melhora do perfil lipídico Ao reduzir a absorção de gordura, o Orlistate também diminui a absorção de colesterol dietético. Isso se reflete em menor LDL e triglicerídeos, especialmente quando associado a uma dieta equilibrada.

  2. Controle da glicemia Estudos mostram que o uso contínuo de Orlistat em pacientes com pré-diabetes pode atrasar ou prevenir a progressão para o diabetes tipo 2.

  3. Redução da gordura visceral Essa gordura, que se acumula na região abdominal, é uma das principais responsáveis por inflamação sistêmica e risco cardiovascular. O Orlistat ajuda a reduzi-la de forma gradual.

  4. Segurança cardiovascular Diferente de medicações que atuam em neurotransmissores, o Orlistat não altera pressão arterial, frequência cardíaca ou ritmo cardíaco, sendo seguro para pacientes com doenças cardiovasculares.



Efeitos colaterais e limitações

Como o Orlistate impede a absorção de gordura, parte dessa gordura é eliminada nas fezes — e esse é o motivo dos efeitos adversos mais comuns.

Efeitos colaterais gastrointestinais:

  • Evacuações oleosas;

  • Gases com eliminação de gordura;

  • Urgência fecal;

  • Aumento da frequência intestinal;

  • Flatulência.

Esses sintomas são mais intensos quando o paciente ingere grandes quantidades de gordura.

Por isso, uma dieta equilibrada é fundamental: o medicamento reforça a necessidade de comer bem.

Com o tempo, o organismo se adapta e os efeitos costumam diminuir.

Deficiências nutricionais

Como o Orlistate reduz a absorção de gordura, ele também pode diminuir a absorção das vitaminas lipossolúveis: A, D, E e K.

Por isso, recomenda-se suplementação dessas vitaminas, geralmente à noite (fora do horário do medicamento).



Quando o Orlistat é contraindicado

O uso do Orlistat é contraindicado em:

  • Síndromes de má absorção crônica;

  • Colestase (problemas na bile);

  • Gravidez e lactação;

  • Alergia ao princípio ativo;

  • Pacientes com IMC abaixo de 25 kg/m² (sem indicação clínica).

Também deve ser usado com cautela em pacientes que utilizam anticoagulantes, pois pode alterar a absorção de vitamina K, interferindo no controle do INR.



Comparação com outros medicamentos para emagrecer

Nos últimos anos, surgiram diversas novas opções farmacológicas, como liraglutida, semaglutida e tirzepatida (análogos do GLP-1).

Essas medicações têm resultados superiores em termos de perda de peso, mas também custos mais altos e efeitos colaterais sistêmicos.


O papel do Orlistat na nutrologia médica

Na nutrologia clínica, o Orlistat pode ser útil em três contextos principais:

  1. Como terapia inicial Em pacientes com sobrepeso leve a moderado, o Orlistat pode ajudar a iniciar o processo de perda de peso, reforçando a importância da alimentação balanceada.

  2. Como coadjuvante em planos de longo prazo Pode ser combinado a dietas hipocalóricas, planos hiperproteicos ou de baixo índice glicêmico, especialmente para manter o peso após grandes perdas.

  3. Em pacientes com comorbidades cardiovasculares Por não ter ação sistêmica, é uma opção segura para hipertensos, cardiopatas e idosos.

Além disso, ao melhorar o perfil lipídico e glicêmico, o Orlistat atua indiretamente na prevenção de eventos cardiovasculares.



O que o paciente precisa saber antes de iniciar

O paciente deve ser orientado quanto a alguns pontos essenciais:

  1. A dieta é parte fundamental do tratamento. Comer de forma equilibrada é o que garante eficácia e reduz os efeitos colaterais.

  2. O medicamento não “queima” gordura. Ele apenas impede a absorção de parte dela. Se a alimentação continuar desregrada, o efeito será limitado.

  3. Suplementação é importante. Vitaminas lipossolúveis devem ser repostas regularmente.

  4. Não usar por conta própria. O uso deve ser sempre prescrito e monitorado por médico, com acompanhamento laboratorial periódico.

  5. O foco é metabólico, não estético. O objetivo é melhorar saúde, controle glicêmico e reduzir risco cardiovascular.



Evidências científicas e diretrizes

As principais diretrizes internacionais reconhecem o Orlistat como medicação eficaz e segura para o tratamento da obesidade:

  • Endocrine Society (EUA) – recomenda como primeira linha em casos leves ou quando há contraindicação para medicações de ação central.

  • European Association for the Study of Obesity (EASO) – destaca o benefício metabólico e o perfil de segurança.

  • Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM, 2023) – reforça seu uso como opção inicial de baixo custo e baixa toxicidade.

Um dos estudos mais importantes, o XENDOS Trial (Lancet, 2004), acompanhou mais de 3.000 pacientes por 4 anos e demonstrou:

  • Redução de 37% no risco de desenvolver diabetes tipo 2;

  • Perda de peso sustentada após 4 anos;

  • Melhora no perfil lipídico e pressão arterial.

Esses dados confirmam que, embora modesto em termos de perda de peso, o Orlistat traz benefícios clínicos consistentes e duradouros.



Estratégias para potencializar o efeito

Para maximizar os resultados do Orlistat e minimizar efeitos colaterais, recomenda-se:

  1. Ajuste gradual da dieta — reduzir gordura para menos de 30% das calorias diárias.

  2. Dividir refeições em pequenas porções — melhora digestão e reduz desconfortos intestinais.

  3. Aumentar ingestão de fibras e proteínas — melhora saciedade e equilíbrio intestinal.

  4. Atividade física regular — acelera o metabolismo e favorece a perda de gordura visceral.

  5. Monitorar vitaminas A, D, E, K — prevenir deficiências.

Com essas medidas, o Orlistate se torna mais eficaz e tolerável.




E o efeito rebote?

Como o Orlistate não interfere em neurotransmissores, o risco de efeito rebote (ganho de peso abrupto após suspensão) é baixo — desde que o paciente mantenha hábitos saudáveis.

O que costuma acontecer é que, após interromper o uso, o indivíduo volta a absorver 100% da gordura ingerida.

Portanto, se houver retorno ao padrão alimentar antigo, o peso tende a aumentar.

Isso reforça a importância da reeducação alimentar e da mudança comportamental duradoura.



Conclusão

O Orlistat é um medicamento seguro, acessível e cientificamente validado para o tratamento da obesidade e do sobrepeso com comorbidades.

Seu mecanismo local evita efeitos no sistema nervoso central, tornando-o uma opção valiosa, principalmente em pacientes com risco cardiovascular ou intolerância a outras drogas.

No entanto, não é uma solução isolada.

O sucesso depende da adesão à dieta, da suplementação correta e do acompanhamento médico regular.

Mais do que emagrecer, o uso racional do Orlistate deve ter como meta melhorar o metabolismo, reduzir gordura visceral e proteger o coração — pilares da medicina integrativa entre Cardiologia e Nutrologia.

“O remédio certo só funciona com o paciente certo, no contexto certo. O tratamento da obesidade começa no comportamento, não na cápsula.”

— Dr. Ênio Panetti Usiglio

Cardiologia e Nutrologia | CRM 5256781-1



 
 
 

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