Orlistat: como age, para quem é indicado e quais os riscos
- Equipe Ênio Panetti

- 21 de out.
- 6 min de leitura
O Orlistate é um dos medicamentos mais antigos e estudados no tratamento da obesidade.
Embora muitos novos fármacos tenham surgido — como os análogos de GLP-1 — o Orlistate ainda ocupa um papel importante, especialmente em pacientes que precisam de tratamento seguro, de baixo custo e com poucos efeitos sistêmicos.
Neste artigo, você vai entender como o Orlistate age no organismo, quem pode usar, quais são seus efeitos colaterais, quais resultados esperar e por que o acompanhamento médico é indispensável.
O que é o Orlistate
O Orlistate é uma droga antiobesidade aprovada no final da década de 1990.
Sua principal característica é que atua no intestino, e não no cérebro — ao contrário de muitos medicamentos que reduzem o apetite.
Trata-se de um inibidor específico da lipase gastrointestinal, enzima responsável por quebrar as gorduras dos alimentos para que sejam absorvidas.
Ao bloquear parcialmente essa enzima, o Orlistat impede que cerca de 30% da gordura ingerida seja absorvida, e essa gordura é eliminada nas fezes.
Como o Orlistat funciona no corpo
O mecanismo de ação do Orlistate é puramente local.
Ele atua no trato gastrointestinal, ligando-se às lipases gástricas e pancreáticas.
Quando essa ligação ocorre, as gorduras da dieta (triglicerídeos) não são convertidas em ácidos graxos livres, forma necessária para sua absorção.
Como consequência, essas gorduras passam intactas pelo intestino e são eliminadas nas fezes.
Isso significa que o Orlistate não atua no sistema nervoso central, não altera neurotransmissores e não causa dependência — um ponto positivo em relação a muitos anorexígenos.
Efeitos esperados:
Redução da absorção de gordura alimentar;
Déficit calórico indireto (menor absorção de energia total);
Perda de peso progressiva e moderada;
Melhora de parâmetros metabólicos como colesterol e glicemia.
Indicação médica do Orlistate
De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Sociedade Brasileira de Nutrologia (ABRAN), o Orlistate é indicado para:
Pacientes com IMC ≥ 30 kg/m² (obesidade);
Pacientes com IMC ≥ 27 kg/m² e comorbidades associadas (diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, apneia do sono, etc.);
Pacientes que não respondem adequadamente apenas à dieta e exercício;
Situações em que o uso de medicamentos de ação central é contraindicado.
A dose habitual é de 120 mg três vezes ao dia, junto às principais refeições que contenham gordura.
Se a refeição não tiver gordura, não há necessidade de tomar o medicamento.
O que esperar: resultados clínicos e perda de peso média
O Orlistate não é uma “pílula mágica”.
Seu efeito depende diretamente da adesão à dieta.
Quanto maior o consumo de gordura, maior o efeito, mas também maiores os efeitos colaterais.
Em estudos clínicos de longo prazo, observou-se:
Perda média de 5 kg do peso corporal em 6 meses;
Melhora significativa da glicemia de jejum e da resistência à insulina;
Redução de colesterol LDL e triglicerídeos;
Pequeno aumento do HDL (colesterol “bom”);
Diminuição da circunferência abdominal e da gordura visceral.
Esses benefícios são relevantes, especialmente em um contexto de cardiologia preventiva, já que a obesidade é fator de risco para infarto, AVC e insuficiência cardíaca.
Benefícios metabólicos e cardiovasculares
Além da perda de peso, o Orlistate pode oferecer melhorias adicionais no metabolismo:
Melhora do perfil lipídico Ao reduzir a absorção de gordura, o Orlistate também diminui a absorção de colesterol dietético. Isso se reflete em menor LDL e triglicerídeos, especialmente quando associado a uma dieta equilibrada.
Controle da glicemia Estudos mostram que o uso contínuo de Orlistat em pacientes com pré-diabetes pode atrasar ou prevenir a progressão para o diabetes tipo 2.
Redução da gordura visceral Essa gordura, que se acumula na região abdominal, é uma das principais responsáveis por inflamação sistêmica e risco cardiovascular. O Orlistat ajuda a reduzi-la de forma gradual.
Segurança cardiovascular Diferente de medicações que atuam em neurotransmissores, o Orlistat não altera pressão arterial, frequência cardíaca ou ritmo cardíaco, sendo seguro para pacientes com doenças cardiovasculares.
Efeitos colaterais e limitações
Como o Orlistate impede a absorção de gordura, parte dessa gordura é eliminada nas fezes — e esse é o motivo dos efeitos adversos mais comuns.
Efeitos colaterais gastrointestinais:
Evacuações oleosas;
Gases com eliminação de gordura;
Urgência fecal;
Aumento da frequência intestinal;
Flatulência.
Esses sintomas são mais intensos quando o paciente ingere grandes quantidades de gordura.
Por isso, uma dieta equilibrada é fundamental: o medicamento reforça a necessidade de comer bem.
Com o tempo, o organismo se adapta e os efeitos costumam diminuir.
Deficiências nutricionais
Como o Orlistate reduz a absorção de gordura, ele também pode diminuir a absorção das vitaminas lipossolúveis: A, D, E e K.
Por isso, recomenda-se suplementação dessas vitaminas, geralmente à noite (fora do horário do medicamento).
Quando o Orlistat é contraindicado
O uso do Orlistat é contraindicado em:
Síndromes de má absorção crônica;
Colestase (problemas na bile);
Gravidez e lactação;
Alergia ao princípio ativo;
Pacientes com IMC abaixo de 25 kg/m² (sem indicação clínica).
Também deve ser usado com cautela em pacientes que utilizam anticoagulantes, pois pode alterar a absorção de vitamina K, interferindo no controle do INR.
Comparação com outros medicamentos para emagrecer
Nos últimos anos, surgiram diversas novas opções farmacológicas, como liraglutida, semaglutida e tirzepatida (análogos do GLP-1).
Essas medicações têm resultados superiores em termos de perda de peso, mas também custos mais altos e efeitos colaterais sistêmicos.
O papel do Orlistat na nutrologia médica
Na nutrologia clínica, o Orlistat pode ser útil em três contextos principais:
Como terapia inicial Em pacientes com sobrepeso leve a moderado, o Orlistat pode ajudar a iniciar o processo de perda de peso, reforçando a importância da alimentação balanceada.
Como coadjuvante em planos de longo prazo Pode ser combinado a dietas hipocalóricas, planos hiperproteicos ou de baixo índice glicêmico, especialmente para manter o peso após grandes perdas.
Em pacientes com comorbidades cardiovasculares Por não ter ação sistêmica, é uma opção segura para hipertensos, cardiopatas e idosos.
Além disso, ao melhorar o perfil lipídico e glicêmico, o Orlistat atua indiretamente na prevenção de eventos cardiovasculares.
O que o paciente precisa saber antes de iniciar
O paciente deve ser orientado quanto a alguns pontos essenciais:
A dieta é parte fundamental do tratamento. Comer de forma equilibrada é o que garante eficácia e reduz os efeitos colaterais.
O medicamento não “queima” gordura. Ele apenas impede a absorção de parte dela. Se a alimentação continuar desregrada, o efeito será limitado.
Suplementação é importante. Vitaminas lipossolúveis devem ser repostas regularmente.
Não usar por conta própria. O uso deve ser sempre prescrito e monitorado por médico, com acompanhamento laboratorial periódico.
O foco é metabólico, não estético. O objetivo é melhorar saúde, controle glicêmico e reduzir risco cardiovascular.
Evidências científicas e diretrizes
As principais diretrizes internacionais reconhecem o Orlistat como medicação eficaz e segura para o tratamento da obesidade:
Endocrine Society (EUA) – recomenda como primeira linha em casos leves ou quando há contraindicação para medicações de ação central.
European Association for the Study of Obesity (EASO) – destaca o benefício metabólico e o perfil de segurança.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM, 2023) – reforça seu uso como opção inicial de baixo custo e baixa toxicidade.
Um dos estudos mais importantes, o XENDOS Trial (Lancet, 2004), acompanhou mais de 3.000 pacientes por 4 anos e demonstrou:
Redução de 37% no risco de desenvolver diabetes tipo 2;
Perda de peso sustentada após 4 anos;
Melhora no perfil lipídico e pressão arterial.
Esses dados confirmam que, embora modesto em termos de perda de peso, o Orlistat traz benefícios clínicos consistentes e duradouros.
Estratégias para potencializar o efeito
Para maximizar os resultados do Orlistat e minimizar efeitos colaterais, recomenda-se:
Ajuste gradual da dieta — reduzir gordura para menos de 30% das calorias diárias.
Dividir refeições em pequenas porções — melhora digestão e reduz desconfortos intestinais.
Aumentar ingestão de fibras e proteínas — melhora saciedade e equilíbrio intestinal.
Atividade física regular — acelera o metabolismo e favorece a perda de gordura visceral.
Monitorar vitaminas A, D, E, K — prevenir deficiências.
Com essas medidas, o Orlistate se torna mais eficaz e tolerável.
E o efeito rebote?
Como o Orlistate não interfere em neurotransmissores, o risco de efeito rebote (ganho de peso abrupto após suspensão) é baixo — desde que o paciente mantenha hábitos saudáveis.
O que costuma acontecer é que, após interromper o uso, o indivíduo volta a absorver 100% da gordura ingerida.
Portanto, se houver retorno ao padrão alimentar antigo, o peso tende a aumentar.
Isso reforça a importância da reeducação alimentar e da mudança comportamental duradoura.
Conclusão
O Orlistat é um medicamento seguro, acessível e cientificamente validado para o tratamento da obesidade e do sobrepeso com comorbidades.
Seu mecanismo local evita efeitos no sistema nervoso central, tornando-o uma opção valiosa, principalmente em pacientes com risco cardiovascular ou intolerância a outras drogas.
No entanto, não é uma solução isolada.
O sucesso depende da adesão à dieta, da suplementação correta e do acompanhamento médico regular.
Mais do que emagrecer, o uso racional do Orlistate deve ter como meta melhorar o metabolismo, reduzir gordura visceral e proteger o coração — pilares da medicina integrativa entre Cardiologia e Nutrologia.
“O remédio certo só funciona com o paciente certo, no contexto certo. O tratamento da obesidade começa no comportamento, não na cápsula.”
— Dr. Ênio Panetti Usiglio
Cardiologia e Nutrologia | CRM 5256781-1



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