Dieta Mediterrânea: resultados comprovados
- Equipe Ênio Panetti

- 6 de set.
- 5 min de leitura

Ao longo das últimas décadas, inúmeras dietas ganharam fama e depois desapareceram, deixando claro que muitas delas não passam de modismos passageiros, sustentados mais pelo marketing do que pela ciência. No entanto, existe um padrão alimentar que se mantém firme, com décadas de estudos clínicos de alta qualidade comprovando seus benefícios: a dieta mediterrânea.
Diferente de estratégias como a dieta metabólica, a cetogênica ou o jejum intermitente, a dieta mediterrânea não é uma moda. Ela é um patrimônio cultural dos povos que vivem ao redor do Mar Mediterrâneo e, ao mesmo tempo, uma das intervenções nutricionais mais estudadas na medicina moderna.
O que é a dieta mediterrânea?
A dieta mediterrânea não é um “cardápio fixo”, mas sim um padrão alimentar inspirado nos hábitos de países como Grécia, Itália e Espanha, principalmente na década de 1960, quando estudos epidemiológicos mostraram que essas populações tinham taxas muito baixas de doenças cardiovasculares e longevidade superior quando comparadas a países do norte da Europa e aos Estados Unidos.
Os principais pilares da dieta mediterrânea são:
Alto consumo de frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas e oleaginosas;
Azeite de oliva como principal fonte de gordura;
Consumo frequente de peixes e frutos do mar;
Laticínios em pequenas quantidades, preferencialmente queijos e iogurtes fermentados;
Carne vermelha em baixa frequência e em porções pequenas;
Ervas, temperos naturais e oleaginosas no lugar do excesso de sal.
Este padrão alimentar privilegia alimentos frescos, minimamente processados e ricos em nutrientes, ao invés de produtos industrializados.
Evidências científicas: por que a dieta mediterrânea não é modismo
Ao contrário de outras dietas que surgem e desaparecem, a dieta mediterrânea é sustentada por mais de meio século de pesquisa científica.
Um dos primeiros trabalhos a chamar atenção foi o Estudo dos Sete Países, iniciado por Ancel Keys na década de 1950, que mostrou que populações mediterrâneas apresentavam baixa incidência de infarto e mortalidade cardiovascular, mesmo consumindo uma quantidade relativamente alta de gorduras — mas predominantemente gorduras insaturadas, como o azeite de oliva.
A partir daí, vários ensaios clínicos e meta-análises confirmaram esses achados.
O Lyon Diet Heart Study
Um marco histórico foi o Lyon Diet Heart Study, publicado no Circulation em 1999. Esse estudo acompanhou pacientes que já haviam sofrido infarto do miocárdio e comparou aqueles que seguiam uma dieta mediterrânea com os que seguiam uma dieta “convencional” recomendada à época.
O resultado foi impressionante: os pacientes que adotaram a dieta mediterrânea tiveram redução de até 70% no risco de novos eventos cardiovasculares. Esse efeito protetor foi muito superior ao que se esperaria apenas com medicamentos disponíveis na época, mostrando que a alimentação poderia ter impacto semelhante ao das terapias farmacológicas.
O PREDIMED: a maior evidência da dieta mediterrânea
Outro estudo fundamental é o PREDIMED (Prevención con Dieta Mediterránea), conduzido na Espanha e publicado no New England Journal of Medicine em 2013. Trata-se de um dos maiores ensaios clínicos sobre nutrição já realizados, com mais de 7.000 participantes de alto risco cardiovascular acompanhados por quase cinco anos.
Os participantes foram divididos em três grupos:
Dieta mediterrânea suplementada com azeite de oliva extra virgem;
Dieta mediterrânea suplementada com oleaginosas (nozes, amêndoas, avelãs);
Dieta controle com orientação de baixo teor de gordura.
O resultado foi claro: os grupos que seguiram a dieta mediterrânea tiveram redução de cerca de 30% no risco de infarto, AVC e morte cardiovascular, em comparação ao grupo controle.
Esse estudo consolidou a dieta mediterrânea como a estratégia nutricional com maior evidência científica em prevenção cardiovascular.
Meta-análises e revisões sistemáticas
Os benefícios da dieta mediterrânea não se limitam a estudos individuais. Revisões sistemáticas e meta-análises reforçam sua eficácia:
Uma revisão publicada no BMJ em 2019 mostrou que a adesão à dieta mediterrânea estava associada a menor mortalidade por todas as causas, incluindo câncer e doenças cardiovasculares.
Outra meta-análise no Journal of the American College of Cardiology (2017) demonstrou que esse padrão alimentar reduzia significativamente os níveis de colesterol LDL, melhorava a pressão arterial e reduzia marcadores inflamatórios.
Um estudo no The Lancet Public Health em 2018 indicou que a dieta mediterrânea também contribui para a prevenção de diabetes tipo 2, reduzindo em até 23% o risco de desenvolvimento da doença.
Essas evidências colocam a dieta mediterrânea em uma posição única: é uma das poucas estratégias alimentares que combina tradição cultural com comprovação científica robusta.
Benefícios comprovados da dieta mediterrânea
Além da saúde cardiovascular, a dieta mediterrânea apresenta efeitos positivos em diversos aspectos da saúde:
Controle do colesterol e triglicerídeos – o consumo de azeite de oliva, oleaginosas e peixes ricos em ômega-3 ajuda a reduzir o colesterol LDL e aumentar o HDL.
Redução da pressão arterial – a alta ingestão de vegetais e potássio, associada à moderação no consumo de sal, auxilia no controle da hipertensão.
Prevenção do diabetes tipo 2 – estudos mostram melhora da sensibilidade à insulina e menor risco de desenvolvimento da doença.
Proteção contra declínio cognitivo – pesquisas publicadas no Frontiers in Nutrition sugerem que a dieta mediterrânea está associada a menor risco de Alzheimer e outras formas de demência.
Longevidade – populações mediterrâneas apresentam maior expectativa de vida saudável, e estudos observacionais confirmam que a adesão a esse padrão alimentar está ligada a menor mortalidade global.
Por que a dieta mediterrânea não é uma dieta de moda
Enquanto muitas dietas prometem resultados rápidos e milagrosos, a dieta mediterrânea se destaca justamente por não se basear em restrições radicais ou regras complicadas.
Não é restritiva: não elimina grupos alimentares inteiros.
É prazerosa: inclui alimentos saborosos e culturalmente valorizados.
É sustentável a longo prazo: pode ser seguida por anos ou décadas sem comprometer o bem-estar.
É adaptável: pode ser ajustada a diferentes realidades culturais e econômicas, mantendo o mesmo princípio.
Isso explica por que a dieta mediterrânea não desaparece com o tempo, como acontece com a maioria das modas alimentares. Ela resiste porque tem evidência científica sólida e aplicabilidade prática.
Dieta mediterrânea e prevenção cardiovascular
Para a cardiologia, a dieta mediterrânea é especialmente relevante. Diversos mecanismos explicam seus benefícios para o coração:
O azeite de oliva e as oleaginosas fornecem ácidos graxos mono e poli-insaturados, que reduzem a oxidação do LDL.
A abundância de frutas e vegetais garante antioxidantes e fibras, que reduzem inflamação vascular.
O consumo regular de peixe aumenta a ingestão de ômega-3, que tem ação antiarrítmica e anti-inflamatória.
O padrão alimentar reduz a resistência insulínica, diminuindo o risco de síndrome metabólica.
Em conjunto, esses fatores explicam a redução consistente do risco de infarto, AVC e morte cardiovascular demonstrada em grandes ensaios clínicos.
Conclusão: a dieta mediterrânea como modelo de saúde
A dieta mediterrânea não é uma dieta da moda, mas um modelo de alimentação testado e aprovado pela ciência. Ela alia tradição cultural, sabor e, sobretudo, eficácia comprovada em estudos clínicos de alto impacto.
Enquanto muitos modismos alimentares aparecem e desaparecem, a dieta mediterrânea permanece sólida como uma das melhores estratégias nutricionais para quem busca prevenção cardiovascular, longevidade e qualidade de vida.
Adotar esse padrão alimentar não significa seguir regras rígidas, mas sim escolher de forma consistente alimentos naturais, variados e ricos em nutrientes, priorizando azeite, vegetais, leguminosas, peixes e oleaginosas.
Na cardiologia moderna, falar em dieta mediterrânea é falar em ciência, tradição e resultados concretos — uma combinação rara e extremamente valiosa.
Ênio Panetti - CRM 52.56781-1



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