Cintilografia do coração: entenda mais sobre o exame
- Equipe Ênio Panetti

- 6 de set.
- 5 min de leitura

A frase acima causa ansiedade em muitos pacientes: “O que será que meu médico quer investigar com esse exame? É perigoso? Preciso mesmo fazer?”. A cintilografia miocárdica, também conhecida como cintilografia do coração, é um dos exames mais utilizados na cardiologia moderna para avaliar a circulação do sangue no músculo cardíaco.
Trata-se de um método consagrado, seguro e extremamente útil para diagnosticar e acompanhar diversas doenças do coração, principalmente a doença arterial coronária (DAC), responsável por angina e infarto. De acordo com a Diretriz Brasileira de Cardiologia Nuclear da SBC (2016), a cintilografia miocárdica é considerada um exame de primeira linha em várias situações clínicas [SBC, 2016].
Neste artigo, você vai entender:
Como é feito o exame.
Para que serve a cintilografia miocárdica.
Quais doenças podem ser detectadas.
Como se preparar para o procedimento.
E, claro, quais cuidados e riscos estão envolvidos.
O que é a cintilografia miocárdica?
A cintilografia miocárdica é um exame de imagem funcional. Isso significa que, diferente de um raio-X ou de uma tomografia, que mostram a anatomia, a cintilografia mostra como o coração está funcionando, mais especificamente, como está a perfusão miocárdica — isto é, se o sangue chega de forma adequada a todas as regiões do músculo cardíaco.
O exame utiliza pequenas quantidades de uma substância radioativa (chamada de radiofármaco, geralmente tecnécio-99m ou tálio-201) que, ao ser injetada na veia, se distribui pelo músculo cardíaco. Uma câmera especial chamada gama-câmara capta essa distribuição e forma imagens que revelam se o coração está recebendo sangue adequadamente.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a cintilografia miocárdica é segura, indolor e de altíssima utilidade clínica【SBC, 2016】.
Como é feita a cintilografia miocárdica?
O exame é dividido em duas etapas principais:
Fase de estresse (ou esforço):
Pode ser realizada em uma esteira ou bicicleta ergométrica.
Para pacientes que não podem se exercitar, é feita com medicamentos que simulam o esforço (como dipiridamol, adenosina ou dobutamina).
Durante o estresse, o radiofármaco é injetado e a câmera registra como o sangue circula no coração sob esforço.
Fase de repouso:
Em outro momento (no mesmo dia ou no dia seguinte), o paciente recebe novamente o radiofármaco em repouso.
A câmera faz novas imagens, mostrando a perfusão cardíaca em condições de descanso.
A comparação entre as duas fases permite avaliar se existem áreas do coração que recebem pouco sangue apenas durante o esforço (indicando obstrução parcial das artérias) ou áreas que não recebem sangue nem em repouso (indicando cicatriz ou infarto antigo).
Essa análise torna a cintilografia miocárdica um dos métodos mais sensíveis para detectar doença coronária [SBC, 2016].
Para que serve a cintilografia miocárdica?
A utilidade da cintilografia vai além de simplesmente “ver se tem entupimento nas artérias”.
O exame pode responder a várias perguntas importantes no cuidado cardiológico:
Avaliação de pacientes com angina: quando o paciente tem dor no peito não se sabe se a causa é cardíaca.
Avaliação de risco: estimar a chance de um paciente sofrer um infarto ou complicações futuras.
Indicação de cateterismo: ajuda a decidir se vale a pena investigar com métodos invasivos.
Acompanhamento após tratamento: seja após uma angioplastia, colocação de stent ou cirurgia de revascularização.
Avaliação da função cardíaca: o exame também pode calcular a fração de ejeção (quanto de sangue o coração bombeia a cada batida).
Segundo o Guideline de Cardiologia Nuclear da SBC, a cintilografia miocárdica é particularmente indicada em pacientes com dor torácica intermediária, em que os exames iniciais não foram conclusivos【SBC, 2016】.
Quais doenças podem ser detectadas?
A cintilografia miocárdica é especialmente valiosa na investigação de doença arterial coronária, mas não se limita a isso. O exame pode identificar:
Isquemia miocárdica: quando há redução temporária do fluxo sanguíneo em alguma região do coração.
Infarto do miocárdio: mostrando cicatrizes permanentes no músculo cardíaco.
Diferença na perfusão entre estresse e repouso: indicando se a obstrução é reversível ou definitiva.
Comprometimento difuso do músculo cardíaco, como em casos de miocardiopatia.
De acordo com a SBC, a cintilografia também é útil em pacientes diabéticos assintomáticos, que têm maior risco cardiovascular, e em pacientes antes de cirurgias não cardíacas, quando se deseja avaliar o risco de complicações cardíacas no perioperatório【SBC, 2016】.
A cintilografia miocárdica dói? É perigosa?
Uma das grandes preocupações dos pacientes é se o exame traz riscos. A resposta é: a cintilografia miocárdica é considerada segura.
O radiofármaco não causa reações alérgicas significativas e a quantidade de radiação envolvida é baixa, similar à de uma tomografia.
Os efeitos colaterais mais comuns ocorrem quando é usado medicamento para simular o esforço, podendo incluir dor de cabeça, rubor ou palpitações — geralmente passageiros.
Segundo a SBC, a taxa de complicações graves é extremamente baixa e os benefícios superam largamente os riscos【SBC, 2016】.
Como se preparar para o exame?
O preparo pode variar de acordo com o protocolo do serviço, mas em geral envolve:
Evitar cafeína (café, chá, refrigerantes) por pelo menos 24 horas antes do exame, especialmente se for utilizada adenosina ou dipiridamol.
Jejum leve de 3 a 4 horas.
Uso de medicamentos: alguns remédios para o coração podem precisar ser suspensos temporariamente, como betabloqueadores, sempre sob orientação médica.
Roupas confortáveis para a fase de esforço físico.
Comparação com outros exames do coração
Muitos pacientes perguntam: “Mas por que não fazer logo um cateterismo?” ou “O ecocardiograma não resolve?”.
O eletrocardiograma de esforço (teste ergométrico) é mais simples, mas menos sensível em certos casos.
O ecocardiograma de estresse avalia a contração do coração durante o esforço, mas pode não detectar isquemias muito pequenas.
O cateterismo cardíaco é o padrão-ouro para ver as artérias, mas é invasivo, envolve riscos e nem sempre é necessário de imediato.
Nesse contexto, a cintilografia miocárdica é um exame intermediário, não invasivo, seguro e altamente confiável, ajudando a decidir se o paciente precisa ou não de cateterismo【SBC, 2016】.
Resultados: como interpretar?
Os laudos de cintilografia miocárdica costumam trazer termos como:
Normal: fluxo de sangue adequado em todo o coração.
Isquemia reversível: falta de sangue ao esforço, mas normal em repouso.
Defeito fixo: área de cicatriz ou infarto antigo.
Isquemia extensa ou de alto risco: necessidade de tratamento mais agressivo, como cateterismo.
Essas informações ajudam o médico a estratificar o risco do paciente e decidir a melhor conduta, seja ajuste de medicamentos, angioplastia ou cirurgia【SBC, 2016】.
Quando o exame é realmente indicado?
Segundo a Diretriz da SBC, a cintilografia miocárdica é indicada especialmente nos seguintes cenários:
Pacientes com dor torácica intermediária e exames inconclusivos.
Pacientes com múltiplos fatores de risco cardiovascular (diabetes, hipertensão, colesterol alto, tabagismo).
Avaliação de risco em pacientes com doença coronária já conhecida.
Pacientes assintomáticos com risco alto, como diabéticos.
Avaliação antes de cirurgias de grande porte em pacientes com suspeita de doença coronária【SBC, 2016】.
Conclusão: por que a cintilografia miocárdica é tão importante?
Se o seu médico solicitou uma cintilografia miocárdica, não se assuste. O exame é uma ferramenta essencial da cardiologia, indicada em situações específicas e com potencial de salvar vidas. Ele ajuda a identificar se há áreas do coração em risco de sofrer um infarto, orienta a necessidade de cateterismo e permite um acompanhamento mais preciso do tratamento.
Conforme reforça a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a cintilografia é segura, acessível e tem papel central no diagnóstico e estratificação de risco da doença coronária [SBC, 2016].
Em resumo, trata-se de um exame que combina segurança, precisão e utilidade clínica, sendo um dos pilares da cardiologia moderna.
Ênio Panetti - CRM 52.56781-1
Referência principal
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de Cardiologia Nuclear – Arq Bras Cardiol. 2016;107(3 Suppl 3):1-104.



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