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Pressão arterial como você nunca viu: o que é velocidade de onda de pulso e pressão aórtica central

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Você já mediu a pressão arterial e ouviu “12 por 8”? Esse número é tão comum que quase virou sinônimo de saúde perfeita. Mas e se eu te dissesse que a pressão medida no seu braço pode não contar toda a verdade sobre o que está acontecendo com o seu coração e vasos? Existe um novo jeito de ver a pressão — mais preciso, mais moderno e mais conectado com o que realmente importa para a sua saúde: estamos falando da velocidade de onda de pulso e da pressão aórtica central.


Esses dois parâmetros, ainda pouco conhecidos fora do meio médico, estão revolucionando a maneira como olhamos para o risco cardiovascular. Se você tem pressão alta, histórico familiar, quer envelhecer com saúde ou simplesmente gosta de entender como o corpo funciona, este artigo é para você.



A pressão que você mede no braço não é exatamente a pressão do coração

Vamos começar do começo: quando você vai ao consultório e coloca aquela braçadeira no braço, o que está sendo medido é a pressão arterial periférica, geralmente na artéria braquial, que passa pelo braço.


Mas o que interessa mesmo para o coração, cérebro, rins e vasos importantes não é essa pressão “periférica”, e sim a pressão central, especialmente a pressão na aorta, que é o grande vaso que sai direto do coração.


Imagine um rio que começa largo e vai se estreitando: o fluxo e a pressão da água variam em diferentes pontos. Com o sangue é a mesma coisa. A pressão que chega ao braço pode ser bem diferente da que sai do coração — e essa diferença pode esconder riscos importantes.


O que é a pressão aórtica central?

A pressão aórtica central é a medida da pressão dentro da aorta — a primeira e maior artéria que recebe o sangue bombeado pelo coração. Ela representa a pressão que os órgãos vitais realmente “sentem” e é influenciada diretamente pela rigidez dos vasos e pela onda de pulso (falaremos dela a seguir).


Essa medida tem uma vantagem poderosa: ela reflete com mais precisão o esforço que o coração faz e o impacto real da pressão arterial sobre o sistema cardiovascular.

Estudos mostram que a pressão aórtica central é mais fortemente associada a eventos como infarto, AVC e morte súbita do que a pressão medida no braço. Isso significa que alguém pode ter uma pressão “normal” no braço, mas estar em risco aumentado por causa da pressão central elevada — e nem saber.


O que é a velocidade de onda de pulso?

Toda vez que o coração bate, ele envia uma “onda” de pressão ao longo dos vasos. Essa onda viaja pelas artérias e volta para o coração como uma espécie de eco. A velocidade com que essa onda viaja depende de quão rígidas ou elásticas estão as artérias. Essa medida é chamada de velocidade de onda de pulso (Pulse Wave Velocity, ou PWV).

Se as artérias estão saudáveis, jovens e elásticas, a onda viaja devagar. Se estão rígidas, envelhecidas ou danificadas, a onda viaja mais rápido.

Por isso, a velocidade de onda de pulso é um marcador muito sensível do envelhecimento vascular e da rigidez arterial. Quanto maior a velocidade, maior a rigidez — e maior o risco cardiovascular.


Mas por que isso importa?

Porque o que envelhece não é só a aparência: as artérias também envelhecem. E esse envelhecimento — às vezes silencioso — é o que leva à pressão alta resistente, ao infarto silencioso, ao AVC em pessoas jovens e até à insuficiência renal.

Enquanto a pressão tradicional mede uma consequência, a velocidade de onda de pulso e a pressão aórtica central medem a causa do problema: a qualidade e o estado real dos vasos sanguíneos.

Em outras palavras: elas são o futuro da cardiologia preventiva.


O que essas medidas mostram que a pressão comum não mostra?

A pressão braquial (medida no braço) pode ser “maquiada” por fatores como ansiedade, posição do corpo, braço apertado na hora da medição, entre outros. Ela também não capta a rigidez arterial, que é uma das principais causas de hipertensão em pessoas acima dos 50 anos.

Já a pressão aórtica central e a velocidade de onda de pulso:

  • Mostram se as artérias estão envelhecendo antes do tempo;

  • Identificam riscos cardiovasculares ocultos, mesmo com pressão de braço aparentemente normal;

  • Ajudam a diferenciar pacientes que realmente precisam de tratamento intensivo daqueles que não;

  • Ajudam o médico a ajustar melhor os medicamentos, especialmente em pessoas mais velhas;

  • Servem como marcador de resposta ao tratamento: se a rigidez arterial melhora, o risco cardiovascular também cai.


Quem se beneficia mais desses exames?

Embora todo mundo possa se beneficiar dessas medições, elas são especialmente úteis para:

  • Pessoas acima de 50 anos;

  • Pacientes com hipertensão de difícil controle;

  • Indivíduos com pressão “limítrofe” (13/8, 14/9);

  • Pacientes com histórico familiar de infarto ou AVC;

  • Diabéticos e pessoas com colesterol alto;

  • Pessoas que já tiveram eventos cardiovasculares;

  • Atletas ou pessoas que desejam fazer um check-up mais detalhado.

Esses exames ajudam a antecipar problemas e a agir antes que surjam complicações graves.


Como esses exames são feitos?

O mais interessante é que não é preciso usar cateter, nem fazer procedimentos invasivos. A pressão aórtica central e a velocidade de onda de pulso podem ser medidas com equipamentos não invasivos, semelhantes a um medidor de pressão eletrônico, mas com sensores que analisam o pulso e a forma da onda.

O exame dura poucos minutos, é indolor, seguro e rápido, e pode ser feito em consultório. Alguns aparelhos combinam essas medições com outros dados clínicos para oferecer um “mapa de risco” personalizado para cada paciente.


E se minha pressão de braço for normal, mas a central estiver alta?

Essa situação é mais comum do que se imagina. Ela é chamada de hipertensão central isolada, e pode acontecer principalmente em pessoas mais velhas ou com rigidez arterial aumentada.

Esse tipo de alteração não aparece nos exames convencionais e pode passar despercebida por anos. No entanto, a pressão central elevada está associada a maior risco de infarto e AVC, mesmo quando a pressão do braço parece normal.

É por isso que muitos especialistas defendem que a pressão central deveria ser incorporada aos check-ups de rotina, especialmente em grupos de risco.


O que dizem os estudos?

Estudos científicos já mostraram que:

  • A pressão aórtica central é melhor preditora de eventos cardiovasculares do que a pressão periférica (braquial) [(London GM, 2001; JACC)].

  • A velocidade de onda de pulso é considerada o padrão-ouro para avaliar a rigidez arterial e está fortemente associada ao risco de morte cardiovascular [(Laurent S, 2006; European Heart Journal)].

  • Pessoas com PWV aumentada têm risco até 3 vezes maior de infarto, AVC e morte cardiovascular, independentemente de outros fatores.

Essas evidências mostram que o futuro da cardiologia está caminhando para uma avaliação mais profunda, mais precisa e mais personalizada.



Qual a relação com o envelhecimento?

Um dos pontos mais fascinantes da velocidade de onda de pulso é que ela funciona como um marcador do “envelhecimento biológico” das artérias.

Você pode ter 45 anos no documento, mas artérias de 60 — e nem saber. Ou o contrário: ter 60 anos, mas artérias de 45, porque mantém hábitos saudáveis e controla bem seus fatores de risco.

Saber essa “idade vascular” ajuda o paciente a tomar decisões de forma mais consciente sobre alimentação, atividade física, uso de medicamentos e estilo de vida.


Por que esses exames ainda não são tão populares?

A principal razão é que eles ainda são relativamente novos na prática clínica, e muitos serviços de saúde ainda não os oferecem. Além disso, nem todos os profissionais estão familiarizados com a interpretação desses dados — algo que está mudando aos poucos, à medida que as evidências crescem.

Mas a boa notícia é que cada vez mais consultórios de cardiologia e clínicas de check-up estão incorporando essas tecnologias, justamente por entenderem o valor preventivo que elas oferecem.


Conclusão: medir melhor é cuidar melhor

A pressão arterial tradicional continua sendo uma ferramenta importante, mas não conta toda a história. A pressão aórtica central e a velocidade de onda de pulso oferecem uma visão muito mais fiel da realidade vascular do paciente, permitindo diagnósticos mais precisos e estratégias de prevenção mais eficazes.

Se você está preocupado com sua saúde cardiovascular, ou se quer fazer um check-up completo, converse com seu cardiologista sobre a possibilidade de avaliar a pressão central e a rigidez arterial. Esses exames cardiológicos podem ser decisivos para detectar riscos silenciosos e evitar surpresas desagradáveis no futuro.


Lembre-se: cuidar do coração é cuidar da vida inteira — e isso começa por conhecer melhor o seu próprio corpo.


Ênio Panetti - CRM 52.56781-1




 
 
 

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