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Síndrome Metabólica: um alerta silencioso do corpo

síndrome metabólica

A síndrome metabólica é um dos grandes desafios da medicina moderna. Ela representa um conjunto de alterações no metabolismo que, quando combinadas, aumentam muito o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, esteatose hepática e até alguns tipos de câncer.


O problema é que, na maioria das vezes, ela não causa sintomas. Silenciosa, vai se instalando aos poucos — e quando os sinais aparecem, as complicações já estão em curso.

Mas há uma boa notícia: a síndrome metabólica é reversível. E quanto mais cedo ela for reconhecida, mais fácil é restabelecer o equilíbrio do corpo.

Neste artigo, você vai entender o que é essa síndrome, como ela é diagnosticada segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por que ela é tão importante na cardiologia e na nutrologia médica, e o que pode ser feito para preveni-la e tratá-la de forma segura, personalizada e eficaz.



O que é síndrome metabólica segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) define a síndrome metabólica como um conjunto de fatores de risco inter-relacionados que têm como base principal a obesidade abdominal (ou central) e que aumentam a probabilidade de doença cardiovascular aterosclerótica e diabetes tipo 2.

Em outras palavras, é quando o corpo perde o equilíbrio em várias frentes: metabolismo da glicose, dos lipídios, da pressão arterial e da gordura corporal.

Esses fatores, somados, criam um terreno fértil para o aparecimento de doenças crônicas graves.

A SBEM baseia seus critérios no Consenso Latino-Americano de Síndrome Metabólica (2010) e no padrão da International Diabetes Federation (IDF, 2005), adaptado à população brasileira.




Critérios diagnósticos segundo a SBEM

De acordo com a SBEM, o diagnóstico de síndrome metabólica é confirmado quando o paciente apresenta:

Obesidade central (circunferência abdominal aumentada)

+ pelo menos dois dos quatro critérios a seguir.

1️⃣ Obesidade central (critério obrigatório)

A circunferência abdominal é o marcador clínico mais importante da obesidade visceral — aquela gordura que se acumula em torno dos órgãos e tem alta atividade inflamatória.

  • Homens: circunferência abdominal ≥ 94 cm

  • Mulheres: circunferência abdominal ≥ 80 cm

A medição deve ser feita com fita métrica, na linha média entre a última costela e a crista ilíaca, com o paciente em pé e respirando normalmente.

2️⃣ Triglicerídeos elevados

  • ≥ 150 mg/dL, ou uso de medicamento para tratar hipertrigliceridemia.

3️⃣ HDL-colesterol baixo

  • < 40 mg/dL em homens,

  • < 50 mg/dL em mulheres, ou uso de medicação para dislipidemia.

4️⃣ Pressão arterial elevada

  • ≥ 130/85 mmHg, ou uso de anti-hipertensivos.

5️⃣ Glicemia de jejum elevada

  • ≥ 100 mg/dL, ou diagnóstico prévio de diabetes tipo 2, ou uso de medicação hipoglicemiante.

Resumo prático:

👉 Síndrome metabólica = circunferência abdominal aumentada + 2 dos 4 critérios acima.



Por que a síndrome metabólica preocupa tanto na cardiologia

A síndrome metabólica não é uma “doença isolada”, mas sim um estado de desregulação metabólica generalizada que impacta profundamente o sistema cardiovascular.

Cada componente — obesidade central, hipertensão, dislipidemia e resistência à insulina — causa danos que se somam.

O resultado é um processo contínuo de inflamação, disfunção endotelial e rigidez arterial, que favorece a formação de placas de gordura nas artérias (aterosclerose).

Com o tempo, isso aumenta o risco de:

  • Infarto agudo do miocárdio,

  • Acidente vascular cerebral (AVC),

  • Insuficiência cardíaca,

  • Arritmias cardíacas,

  • Doença arterial periférica.

Segundo a American Heart Association, a presença de síndrome metabólica duplica o risco cardiovascular e triplica o risco de diabetes tipo 2.

No Brasil, estima-se que cerca de 25% a 35% da população adulta apresente os critérios para o diagnóstico.



A fisiopatologia: o eixo da resistência à insulina

No centro da síndrome metabólica está a resistência à insulina — um estado em que as células do corpo (principalmente musculares e hepáticas) deixam de responder de forma adequada à ação da insulina.

O organismo, tentando compensar, aumenta a produção desse hormônio, levando à hiperinsulinemia.

Esse excesso de insulina desencadeia uma série de efeitos adversos:

  • Estímulo à produção de triglicerídeos e VLDL pelo fígado.

  • Redução do HDL-colesterol.

  • Retenção de sódio e ativação do sistema renina-angiotensina, elevando a pressão arterial.

  • Aumento do depósito de gordura visceral.

  • Estímulo ao crescimento de células musculares lisas nas artérias, facilitando a aterogênese.

Com o tempo, instala-se um ciclo vicioso: quanto mais gordura abdominal, maior a resistência à insulina — e quanto maior a resistência à insulina, mais gordura se acumula.



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As causas: o estilo de vida moderno como gatilho

A síndrome metabólica é, em grande parte, uma doença do estilo de vida contemporâneo.

Entre os principais fatores que contribuem para o seu desenvolvimento estão:

  • Alimentação rica em ultraprocessados, açúcares e gorduras saturadas.

  • Sedentarismo e baixa massa muscular.

  • Privação de sono, que eleva o cortisol e o apetite.

  • Estresse crônico, que aumenta a resistência à insulina.

  • Tabagismo e consumo excessivo de álcool.

  • Menopausa e andropausa, com alterações hormonais que favorecem o acúmulo de gordura visceral.

  • Predisposição genética, histórico familiar de diabetes ou dislipidemia.

A soma desses fatores provoca inflamação sistêmica, disfunção hormonal e desequilíbrio do metabolismo energético.



Como diagnosticar a síndrome metabólica

O diagnóstico é clínico e laboratorial.

No consultório, o médico avalia a circunferência abdominal, mede a pressão arterial e solicita exames laboratoriais como:

  • Glicemia de jejum


  • Prova de tolerância à glicose oral

  • Perfil lipídico completo (HDL, LDL, triglicerídeos)

  • Hemoglobina glicada (HbA1c)

  • Função hepática e renal

Outros exames podem ajudar a avaliar o impacto metabólico:

  • Ultrassom de abdome (para avaliar esteatose hepática).

  • Avaliação da composição corporal (bioimpedância).

Essas informações permitem identificar o risco global e guiar o tratamento de forma individualizada.



A síndrome metabólica e o fígado gorduroso (esteatose hepática)

Um dos órgãos mais afetados pela síndrome metabólica é o fígado.

A resistência à insulina faz com que ele converta mais glicose em gordura, levando ao acúmulo de triglicerídeos nos hepatócitos.

Essa condição é chamada de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), atualmente renomeada como MASLD (Metabolic dysfunction-associated steatotic liver disease).

A MASLD está presente em até 90% dos indivíduos com síndrome metabólica, e seu tratamento é justamente o controle do metabolismo como um todo: alimentação, peso, glicemia e perfil lipídico.



A relação com o envelhecimento e os hormônios

Com o passar dos anos, ocorre uma redução natural da taxa metabólica basal, perda de massa muscular e aumento da gordura visceral.

Essas mudanças tornam mais fácil o aparecimento da síndrome metabólica — especialmente em mulheres após a menopausa e em homens na andropausa.

Além disso, o declínio de hormônios anabólicos, como testosterona e estrogênio, contribui para a resistência à insulina, a elevação do colesterol e a perda de massa magra.

Por isso, o acompanhamento médico é essencial para detectar precocemente essas alterações e planejar intervenções seguras.



Tratamento: o poder das pequenas mudanças

O tratamento da síndrome metabólica é baseado em mudanças de estilo de vida associadas, quando necessário, a tratamento farmacológico.

O foco é restaurar a sensibilidade à insulina e reduzir o risco cardiovascular global.

1️⃣ Alimentação equilibrada

A alimentação é o pilar central.

Não existe “dieta milagrosa”, mas há padrões alimentares que comprovadamente melhoram o metabolismo:

  • Dieta Mediterrânea: rica em azeite, peixes, castanhas, frutas, legumes e cereais integrais.

  • Dieta DASH: voltada para o controle da pressão arterial, com baixo teor de sódio e alta ingestão de potássio, cálcio e magnésio.

  • Redução de ultraprocessados: quanto menos rótulo, melhor.

  • Controle de açúcares simples: substitua bebidas açucaradas e farináceos por opções integrais e frutas frescas.

Em muitos casos, o acompanhamento com um médico nutrólogo é essencial para personalizar o plano alimentar, considerando composição corporal, exames e preferências individuais.



2️⃣ Exercício físico regular

A prática de atividade física é um dos remédios mais potentes e acessíveis para a síndrome metabólica.

Ela melhora a sensibilidade à insulina, reduz a gordura visceral, melhora o humor e regula o sono.

  • Exercícios aeróbicos: caminhada, corrida, bicicleta, natação.

  • Exercícios de força: musculação ou treino funcional — aumentam a massa muscular e o gasto calórico basal.

  • Movimento diário: pequenas mudanças, como subir escadas ou caminhar mais, já produzem benefícios.

A meta mínima é de 150 minutos semanais de atividade física moderada.



3️⃣ Sono reparador e controle do estresse

Dormir bem é fundamental para o equilíbrio hormonal.

A privação de sono eleva o cortisol, o hormônio do estresse, e aumenta a fome e o acúmulo de gordura abdominal.

Práticas como meditação, respiração consciente, leitura noturna e relaxamento digital ajudam a regular o eixo metabólico.



4️⃣ Controle médico e uso racional de medicamentos

Em alguns casos, o médico pode indicar medicações para controlar os componentes da síndrome:

  • Antihipertensivos (como losartana, anlodipina, valsartana).

  • Estatinas e ezetimiba para controle do colesterol.

  • Metformina para resistência à insulina.

  • Agonistas de GLP-1 (semaglutida, tirzepatida) para perda de peso e melhora metabólica.

A prescrição deve sempre ser individualizada, considerando riscos, benefícios e objetivos terapêuticos.



Abordagem integrada: o corpo como um sistema

A síndrome metabólica é um reflexo de desequilíbrio sistêmico — não apenas de um órgão ou parâmetro laboratorial.

Por isso, o tratamento mais eficaz é aquele que combina nutrição médica, cardiologia preventiva, atividade física e saúde mental.

O trabalho conjunto entre cardiologista, nutrólogo, endocrinologista, educador físico e psicólogo é a chave para resultados duradouros.



Box prático: hábitos que ajudam a reverter a síndrome metabólica

✅ Alimente-se de forma natural e colorida: prefira alimentos in natura, com variedade de cores e texturas.

✅ Mantenha um ritmo de sono regular: 7 a 8 horas por noite.

✅ Mexa-se todos os dias: qualquer movimento conta.

✅ Evite bebidas açucaradas e álcool em excesso.

✅ Controle o estresse: respire fundo, desacelere.

✅ Monitore sua circunferência abdominal: é um marcador simples, mas poderoso.

✅ Faça check-ups regulares: prevenção é sempre o melhor tratamento.


Síndrome metabólica: um convite à reconexão com o corpo

Mais do que uma condição médica, a síndrome metabólica é um aviso silencioso de que o corpo precisa de atenção, equilíbrio e cuidado.

Ela nos lembra que saúde não é ausência de doença, mas harmonia entre metabolismo, mente e estilo de vida.

Pequenas mudanças, feitas com constância e orientação, têm poder de transformar a saúde metabólica — reduzindo riscos, devolvendo energia e prevenindo complicações.

Buscar acompanhamento médico especializado em cardiologia e nutrologia é o passo mais seguro e eficaz para restaurar o equilíbrio e cuidar do corpo como ele merece: com ciência e compaixão.



Referências

  1. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Síndrome Metabólica – Documento de Posicionamento do Departamento de Obesidade da SBEM. Rio de Janeiro, 2019.

  2. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Consenso Latino-Americano de Síndrome Metabólica. Arq Bras Endocrinol Metab. 2005;49(6):979–989.

  3. Alberti KGMM, Zimmet P, Shaw J. IDF Consensus Worldwide Definition of the Metabolic Syndrome. Diabet Med. 2006;23(5):469–480.

  4. Grundy SM, et al. Diagnosis and Management of the Metabolic Syndrome: An American Heart Association/NHLBI Scientific Statement. Circulation. 2005;112:2735–2752.

  5. Eckel RH, et al. The Metabolic Syndrome. The Lancet. 2022;399(10342):1816–1831.

  6. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Diretrizes de Obesidade 2023. Disponível em: www.endocrino.org.br.

  7. European Society of Cardiology. 2024 ESC Guidelines for Cardiovascular Prevention in Clinical Practice. Eur Heart J. 2024;45(8):987–1080.




Ênio Panetti - CRM 52.56781-1

 
 
 

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