Exames cardiológicos: o que são, quais os principais e quando fazer
- Equipe Ênio Panetti
- 5 de jul.
- 4 min de leitura

As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no mundo. No Brasil, estima-se que mais de 380 mil pessoas morram por ano por complicações do coração e da circulação [1]. A boa notícia é que muitos desses eventos podem ser prevenidos com hábitos saudáveis, acompanhamento médico e a realização de exames cardiológicos nos momentos certos.
Neste artigo, você vai descobrir o que são os exames cardiológicos, quais são os principais, quando é indicado realizá-los, o que eles avaliam e por que são tão importantes para a saúde do coração. Todas as informações estão baseadas em evidências científicas e nas principais diretrizes médicas, como as da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), American College of Cardiology (ACC) e European Society of Cardiology (ESC).
O que são exames cardiológicos?
Exames cardiológicos são testes clínicos, laboratoriais ou de imagem que avaliam o funcionamento do coração e dos vasos sanguíneos. Eles ajudam a detectar doenças como hipertensão, insuficiência cardíaca, arritmias, obstruções coronarianas, valvopatias e outras condições cardiovasculares [2].
Quando é indicado fazer exames cardiológicos?
A indicação de exames depende do contexto clínico do paciente. Segundo a Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, eles são recomendados nas seguintes situações [3]:
Presença de sintomas cardíacos, como dor no peito, falta de ar, palpitações ou desmaios
Avaliação de pacientes com doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e dislipidemia
Acompanhamento de quem já teve infarto, AVC, insuficiência cardíaca ou arritmias
Avaliação pré-operatória de cirurgias de risco intermediário ou alto [4]
Início de atividades físicas vigorosas, especialmente em pessoas com fatores de risco
Avaliação de desempenho cardiovascular em atletas
Exames periódicos em pessoas com histórico familiar de doenças cardiovasculares
👉 Importante: pacientes assintomáticos, mesmo com fatores de risco, não devem realizar teste ergométrico ou angiotomografia de coronárias de forma rotineira [3,5,6].
Principais exames cardiológicos
Conheça os exames mais usados, suas indicações e base científica:
1. Eletrocardiograma (ECG)
O ECG registra a atividade elétrica cardíaca e é indicado para investigar sintomas como dor torácica, arritmias ou alterações no ritmo cardíaco [2].
2. Ecocardiograma
O ecocardiograma é fundamental para avaliar a estrutura e a função do coração, especialmente em casos de sopro, insuficiência cardíaca ou valvopatias [7].
3. Holter 24h
Indicado para avaliação de arritmias intermitentes e sintomas como tonturas ou palpitações [8].
4. MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial)
O MAPA é recomendado para confirmar diagnóstico de hipertensão e avaliar controle pressórico em 24 horas [9].
5. Teste ergométrico (teste de esforço)
Deve ser usado para avaliar sintomas de esforço, risco cardiovascular em pacientes com DAC conhecida e investigação de arritmias provocadas pelo exercício [3,6,10].
❗ Não é indicado como exame de rastreamento em pacientes assintomáticos, mesmo de alto risco, conforme a USPSTF, ACC/AHA e SBC [3,5,6].
6. Cintilografia miocárdica
A cintilografia é indicada na avaliação de isquemia miocárdica em pacientes com sintomas e risco intermediário ou alto [10,11].
7. Escore de cálcio coronariano
Recomendado para pacientes assintomáticos com risco intermediário, como diabéticos ou dislipidêmicos, para aprimorar a estratificação de risco e orientar decisões preventivas [12,13].
8. Angiotomografia de coronárias
Indicada para pacientes com dor torácica estável e risco intermediário de DAC, quando o teste funcional é inconclusivo [14].
❗ Não deve ser usada para rastreamento em indivíduos assintomáticos, conforme ACC/AHA e SBC [3,5,14].
9. Cateterismo cardíaco
Exame invasivo usado para confirmar e tratar obstruções em pacientes com infarto, dor torácica de alto risco ou exames não invasivos alterados [2,10].
Qual exame devo fazer?
A escolha depende da história clínica, sintomas, fatores de risco e da estratificação de risco cardiovascular global [3].
Resumo:
Assintomáticos de baixo risco: não necessitam exames específicos
Assintomáticos de risco intermediário: podem se beneficiar de escore de cálcio coronariano [12]
Sintomáticos: devem ser avaliados com ECG, ecocardiograma, testes funcionais (como teste ergométrico ou cintilografia) ou anatômicos (angiotomografia), conforme o caso [3,10]
Com que frequência fazer exames cardiológicos?
Não existe uma regra única, mas as orientações gerais incluem:
ECG e avaliação clínica anual a partir dos 40 anos para homens e 50 para mulheres [3]
Pacientes com hipertensão, diabetes ou dislipidemia: acompanhamento frequente com exames dirigidos [9]
Pós-infarto ou com insuficiência cardíaca/arritmias: seguimento regular com ECG, ecocardiograma e testes funcionais conforme indicado [10]
Exames cardiológicos são seguros?
Sim. A maioria é não invasiva, segura e bem tolerada. Exames com contraste iodado (angiotomografia) ou radiação (cintilografia) exigem avaliação individualizada. O cateterismo é reservado para casos bem definidos, por ser invasivo [3,10,14].
Conclusão
Os exames cardiológicos são ferramentas indispensáveis para proteger a saúde do coração. Quando bem indicados, ajudam a diagnosticar doenças precocemente, prevenir infartos e orientar tratamentos. Por outro lado, exames feitos de forma indiscriminada — especialmente em pacientes assintomáticos — podem levar a diagnósticos desnecessários, exames invasivos e riscos evitáveis [3,5].
A decisão de realizar exames deve ser feita em conjunto com o cardiologista, considerando os sintomas, o risco cardiovascular e os objetivos do cuidado. A prevenção, o estilo de vida saudável e o acompanhamento regular ainda são as melhores estratégias para um coração saudável.
Ênio Panetti - CRM 52.56781-1
📚 Referências
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Cardiômetro SBC. Disponível em: https://www.cardiometro.com.br
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Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arq Bras Cardiol. 2017;108(1 Suppl 1):1-76.
Cury RC, et al. CAD-RADS™: Coronary Artery Disease - Reporting and Data System. J Cardiovasc Comput Tomogr. 2016;10(4):269–281.
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