Menopausa, reposição hormonal e saúde do coração: o que você precisa saber
- Equipe Ênio Panetti

- 22 de set.
- 4 min de leitura

A menopausa é uma fase natural da vida da mulher, marcada pelo fim definitivo da menstruação e pela queda dos hormônios femininos, principalmente o estrogênio. Essa mudança hormonal não traz apenas sintomas conhecidos como fogachos (ondas de calor), suores noturnos e alterações de humor, mas também aumenta o risco de doenças do coração e da circulação.
Por isso, entender a relação entre menopausa, saúde cardiovascular e o papel da terapia de reposição hormonal (TRH) é fundamental para tomar decisões seguras.
Menopausa e risco cardiovascular
Durante a vida fértil, os hormônios femininos — especialmente o estrogênio — ajudam a proteger o coração e os vasos sanguíneos. Eles:
Melhoram o colesterol (aumentam o HDL, o “bom colesterol”, e reduzem o LDL, o “ruim”).
Ajudam a manter os vasos mais flexíveis.
Reduzem inflamação e resistência à insulina.
Colaboram no controle da pressão arterial.
Quando chega a menopausa, essa proteção desaparece. A partir daí, é comum observar:
Aumento do colesterol total e do LDL.
Redução do HDL.
Ganho de gordura abdominal (a chamada gordura visceral, que é a mais perigosa para o coração).
Maior risco de hipertensão e diabetes.
Não é coincidência que, após os 50 anos, a incidência de infarto e AVC em mulheres cresce muito, chegando perto da taxa observada nos homens.
Reposição hormonal: quando pode ajudar e quando pode atrapalhar
A terapia de reposição hormonal (TRH) foi criada para aliviar os sintomas da menopausa e prevenir a perda óssea. Mas, ao longo dos anos, cientistas passaram a investigar se ela também poderia proteger o coração.
Hoje sabemos que a resposta não é tão simples.
Benefícios da TRH
Reduz os fogachos, suores noturnos e melhora a qualidade do sono.
Ajuda na saúde dos ossos, prevenindo osteoporose.
Melhora da saúde vaginal e da sexualidade.
Efeitos positivos no colesterol, principalmente quando iniciada cedo após a menopausa.
Riscos da TRH
Trombose: o risco de trombose venosa aumenta, principalmente com comprimidos orais. O risco é menor com adesivos e géis.
Câncer de mama: o estrogênio isolado não aumenta tanto o risco, mas a combinação de estrogênio + progesterona sintética pode aumentar esse risco após alguns anos de uso.
Câncer de útero: se a mulher ainda tem útero, não pode usar estrogênio sozinho, porque isso aumenta risco de câncer endometrial.
Coração e circulação: mulheres que começam a reposição muito tempo depois da menopausa, ou após os 60 anos, podem ter maior risco de infarto e AVC.
A importância do momento certo
Um dos conceitos mais importantes na medicina hoje é a “janela de oportunidade”.
Iniciar a reposição cedo (até 60 anos ou até 10 anos depois da última menstruação): pode trazer benefícios e até ser neutra em relação ao risco cardiovascular.
Iniciar tardiamente (após 60 anos ou mais de 10 anos da menopausa): aumenta o risco de trombose, AVC e problemas cardíacos, pois o organismo já não reage da mesma forma ao estrogênio.
Esse entendimento mudou muito a forma como os médicos encaram a reposição.
Tipos de hormônios usados
Existem diferentes formas e combinações possíveis na reposição hormonal:
Estrogênio: pode ser tomado por comprimido ou aplicado em adesivo/gel. A via transdérmica (pela pele) tem menos risco de trombose.
Progesterona: precisa ser usada junto com o estrogênio quando a mulher tem útero, para proteger contra o câncer endometrial. A forma natural (progesterona micronizada) parece ser mais segura que alguns derivados sintéticos.
Tibolona: é um hormônio sintético que imita parcialmente estrogênio, progesterona e androgênio. Alivia os sintomas e pode melhorar libido, mas não deve ser usado em mulheres com histórico de câncer de mama e aumenta o risco de AVC em mulheres mais velhas.
SERMs (moduladores seletivos do receptor de estrogênio): não são usados para sintomas da menopausa, mas ajudam na prevenção da osteoporose.
E após 10 anos de menopausa?
As principais diretrizes médicas (como a North American Menopause Society – NAMS 2023 e a Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2021) são claras:
Usar estrogênio muito tempo depois da menopausa (após 10 anos ou depois dos 60 anos) traz mais riscos do que benefícios.
Nessa fase, aumenta o risco de:
Doença coronariana (infarto).
AVC.
Trombose venosa.
Câncer de mama (com uso combinado a progesterona por tempo prolongado).
Além disso, os benefícios em relação a ossos e sintomas já não são tão significativos.
Por isso, a recomendação é sempre: usar a menor dose eficaz, pelo menor tempo possível, e somente em mulheres sintomáticas. A decisão deve ser feita junto ao médico, avaliando riscos e benefícios individuais.
Conclusão
A menopausa é uma fase de mudanças importantes no corpo da mulher, especialmente no que diz respeito à saúde do coração. O risco cardiovascular aumenta, e a reposição hormonal pode ser tanto uma aliada quanto um risco, dependendo da idade da mulher, do tempo desde a menopausa e do tipo de hormônio usado.
Para mulheres jovens, no início da menopausa, a TRH pode ser segura e trazer benefícios significativos.
Para mulheres acima dos 60 anos ou que já estão há mais de 10 anos sem menstruar, a reposição tende a oferecer mais riscos que vantagens.
O acompanhamento médico é fundamental para avaliar cada caso e decidir a melhor forma de cuidar da saúde, sempre com foco não apenas em aliviar sintomas, mas também em proteger o coração a longo prazo.
A mensagem final é: a reposição hormonal deve ser personalizada, nunca padronizada. O mesmo tratamento não serve para todas as mulheres.
Ênio Panetti - CRM 52.56781-1



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